Santa Marta – Padroeira
Marta aparece nos Evangelhos (Lucas 10, 38-42, João 11, 1-44 e 12, 1-11) como sendo a irmã de Lázaro e Maria, os três amigos que Jesus Cristo tinha na aldeia de Betânia, a poucos quilómetros de Jerusalém, e em cuja casa normalmente pernoitava, quando andava pela cidade, ou ia pregar ao Templo. Marta – nome que em aramaico significa “mestra” ou “senhora” – é referida como mulher de trabalho e de muita lida, contrariamente à irmã que preferia sentar-se aos pés do Mestre, ouvindo a sua palavra. Por isso na sua representação iconográfica, aparece como diligente dona de casa, sendo representada com uma vassoura, uma concha, um molho de chaves. Atributos – talvez mais ideia e influência de Frei João de Mansilha! – que levarão a que fosse, em 1756, declarada também a Padroeira da Região Demarcada do Douro e da Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro.
O culto de Santa Marta desenvolveu-se sobretudo no Norte de Portugal ao longo da idade Média. Como passou a designar o lugar que hoje é a sede do concelho, é difícil precisá-lo. Terá havido uma capela – anterior à atualmente existente que é do século XVIII – com a sua invocação? É provável, sendo também de referir que, na encosta do “Monte do Coto”, imediatamente a poente da Vila, há também uma nascente ainda hoje designada como a “Fonte de Santa Marta”.
Santa Marta – Lenda
Lendas são lendas. Umas vezes com algum fundamento histórico, outras vezes nem por isso. Normalmente tentam encontrar uma explicação para a origem ou significado de certos topónimos, localidades, ou mesmo acontecimentos. Mais ou menos ingénuas, simples ou complexas, todas são graciosamente populares. No caso de Santa Marta de Penaguião, a mais conhecida e celebrada, assumiu mesmo lugar de destaque no vitral que Lino António pintou em 1945 para figurar na escadaria nobre da sede da Casa do Douro, em Peso da Régua, situando-se a sua representação iconográfica no lado esquerdo do painel central. Contemo-la, pois:
Certo e desconhecido cavaleiro francês, um tal Conde de Guillon, tendo invadido estas terras, mandou queimar a capela de Santa Marta. Consumado o ato sacrílego, a Santa apareceu-lhe ditando o castigo: que plantasse uma vinha, e cuidasse dela. Arrependido e humilhado, nem quis ver a aparição e, curvado, tapou os olhos com as mãos, mas ao descobri-los, tinha a seus pés um corvo, ave profética e sagrada, de acordo com crenças antigas, símbolo do mau agoiro que pressente a morte com o seu grasnar. O contrito conde cumpriu a dura penitência, e ficou cheio de alegria na hora da vindima, porque nunca tinha produzido nada na vida. Lembrou-se então de oferecer à Santa as uvas, fruto do seu suor, e em vez de um corvo, apareceram-lhe pombas brancas e um cordeiro, símbolos da pureza e da reconciliação. Estava perdoado. E, desde então, a localidade começou a ter um nome: Santa Marta de Pena (castigo) de Guillon. Que, segundo a tradução (e tradição) popular, veio a dar “Santa Marta de Penaguião”.(…)
Textos gentilmente cedidos por Dr. Artur Vaz